"Lidos e relidos, os contos de Clarice Lispector mantêm-se muito próximos de seus leitores, seres extasiados com suas histórias. Organizado por Teresa Montero, doutora em Letras e biógrafa da autora de A hora da estrela, a coletânea Clarice na cabeceira é uma seleção afetiva de contos de Clarice Lispector apresentados por 22 personalidades do cenário cultural. E não se trata de quaisquer fãs. Os escritores Luis Fernando Verissimo e Rubem Fonseca, o crítico José Castelo, a cantora Maria Bethânia, as atrizes Fernanda Torres e Malu Mader, e o diretor Luiz Fernando Carvalho são algumas dos fãs que compõem o time estelar de colaboradores do livro. Junto a cada um dos contos, os leitores convidados compartilharam a experiência de ter Clarice em suas vidas, seja por ter convivido com ela, seja apenas por meio de seus livros. E, implicitamente, propõem a mesma pergunta a todos nós: Qual o seu texto de cabeceira de Clarice Lispector?" Fonte aqui.
Clarice na cabeceira reúne contos de seus livros Laços de Família, A Legião Estrangeira, Felicidade Clandestina, A via crucis do corpo, Onde estivestes de noite e A bela e a fera.
Estou terminando de ler esta seleção espetacular de contos de Clarice e gostaria de repartir com vocês um dos contos do livro. Espero que gostem:
É para lá que eu vou
Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto - é para lá que eu vou.
À ponta do lápis o traço.
Onde expira um pensamento está uma idéia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia - é para lá que eu vou.
Na ponta dos pés o salto.
Parece a história de alguém que foi e não voltou - é para lá que eu vou.
Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? eu vos espero. E para lá que eu vou.
Na ponta da palavra está a palavra. Quero usar a palavra "tertúlia" e não sei aonde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? ver o que existe. Depois de morta é para a realidade que vou. Por enquanto é sonho. Sonho fatídico. Mas depois - depois tudo é real. E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio.
Não sei sobre o que estou falando. Estou falando de nada. Eu sou nada. Depois de morta engrandecerei e me espalharei, e alguém dirá com amor meu nome.
É para o meu pobre nome que vou.
E de lá volto para chamar o nome do ser amado e dos filhos. Eles me responderão. Enfim terei uma resposta. Que resposta? a do amor. Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor. O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.
À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.
Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.
Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. E feneço lentamente.
Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós. (Do livro Onde estivestes de noite).
À ponta do lápis o traço.
Onde expira um pensamento está uma idéia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia - é para lá que eu vou.
Na ponta dos pés o salto.
Parece a história de alguém que foi e não voltou - é para lá que eu vou.
Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? eu vos espero. E para lá que eu vou.
Na ponta da palavra está a palavra. Quero usar a palavra "tertúlia" e não sei aonde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? ver o que existe. Depois de morta é para a realidade que vou. Por enquanto é sonho. Sonho fatídico. Mas depois - depois tudo é real. E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio.
Não sei sobre o que estou falando. Estou falando de nada. Eu sou nada. Depois de morta engrandecerei e me espalharei, e alguém dirá com amor meu nome.
É para o meu pobre nome que vou.
E de lá volto para chamar o nome do ser amado e dos filhos. Eles me responderão. Enfim terei uma resposta. Que resposta? a do amor. Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor. O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.
À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.
Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.
Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. E feneço lentamente.
Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós. (Do livro Onde estivestes de noite).
Beijos e até a próxima,
Cê
18 comentários:
O governo do estado de São Paulo tem um projeto interessante de estímulo à leitura, doando livros aos alunos do ensino médio. Ano passado, dentre outros, meu irmão recebeu o Laços de Família, e, neste ano, A Hora da Estrela. É uma prática louvável, pois aproxima os alunos de escritores nacionais que, mesmo sendo mestres como Clarice, perderam espaço nas prateleiras para literatura estrangeira, e não são fáceis, ao menos aqui no interior, de se encontrar.
Ainda não li Laços de Família, mas A Hora da Estrela permanece como um de meus livros favoritos.
Grande abraço.
Passando pra deixar um oi e um ótimo final de semana!
beijos
http://psicologaregina.blogspot.com
Ah, Clarice, sempre!
Diria que é impossível não gostar dela, né Cê?
Adorei o post para a sexta.
Bom final de semana.
Xeros
Olá querida Cê,
Clarice é incontronável, o que eu desejo e muito é que esse livro apareça cá nos escaparates, que eu vou logo comprá-lo! Literatura brasileira não aparece muito por cá, o mais bombástico é Paulo Coelho, que não é de forma alguma o que eu gosto de ler!
Beijinhos,
Manú
Oi Cê tenho um carinho todo especial a todos os escritos de Clarice. Para mim é uma das que consegue desvendar os mistérios da alma com grande sensibilidade e verdade.
Um beijo
Realmente muito bom (lindo e profundo) este texto que dividiu conosco, principalmente a parte do que tem à extremidade de mim...
Valeu pela dica do livro!
Em breve Clarice estará na minha sessão "Andei lendo...", pois acabei de ler "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres". Muito bom!
Beijinhos
Clarice faz bem à qualquer hora ou momento, que viva em nós! beijos e bom fim de semana!
Clarice Divina Lispector! Minha preferida, sempre! Nossa, leio Clarice o tmepo inteiro, rsrs
Flor, vc está certíssima, eu sou a moça do moço acidentado da UTI, que agora não está mais na UTI, graças a Deus!
rsrs
Beijos flor!
Clarice e vc como companhia é tudo de bom.
beijooo.
Gosto não, eu amo Clarice Lispector mas nunca tinha achado um dos seus livros para ler, até agora.. Vou procurar o mais rápido possível..
Gostei daqui Cê, vou seguir..hehehehe
Bjs, fica com Deus *--*
Olá Cê,
Que lindo conto da Clarice... Amei!
Tenha um lindo fim de semana, beijos!
Olá Cê,
Que lindo conto da Clarice... Amei!
Tenha um lindo fim de semana, beijos!
Cê
Sexta-feira com Clarice? Tudo de bom heim?
"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada."
Ela era (não.... é) ótima.
bjs
O textos de Clarice Lispector, são de um sabor delicioso e o seu entusiasmo cativante recomendando os seus livros, faz com que todos os queiram conhecer.
Beijos,
Élys
Acho sempre triste, tanto clarice como Cecília Meirele e Caio Fernando Abreu. Melancólicos e meio amargos, mas leio e releio...
beijooo
Oi Cê,
Ótima dica! Ainda não li este e vou procurar.
Obrigaduuuuuuuuu!!!
Beijinhos,
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com
Fantástico esse post!
Amo Clarice Lispector, ela lê alma como ninguém!
Muito boa a sua dica!
Bom final de semana minha querida.
gd beijo
Clarice é uma queridona, principalmente das mulheres.
bjs
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