sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Clarice na Cabeceira

Postado por Unknown às 19:00

"Lidos e relidos, os contos de Clarice Lispector mantêm-se muito próximos de seus leitores, seres extasiados com suas histórias. Organizado por Teresa Montero, doutora em Letras e biógrafa da autora de A hora da estrela, a coletânea Clarice na cabeceira é uma seleção afetiva de contos de Clarice Lispector apresentados por 22 personalidades do cenário cultural. E não se trata de quaisquer fãs. Os escritores Luis Fernando Verissimo e Rubem Fonseca, o crítico José Castelo, a cantora Maria Bethânia, as atrizes Fernanda Torres e Malu Mader, e o diretor Luiz Fernando Carvalho são algumas dos fãs que compõem o time estelar de colaboradores do livro. Junto a cada um dos contos, os leitores convidados compartilharam a experiência de ter Clarice em suas vidas, seja por ter convivido com ela, seja apenas por meio de seus livros. E, implicitamente, propõem a mesma pergunta a todos nós: Qual o seu texto de cabeceira de Clarice Lispector?" Fonte aqui.

 
Clarice na cabeceira reúne contos de seus livros Laços de Família, A Legião Estrangeira, Felicidade Clandestina, A via crucis do corpo, Onde estivestes de noite e A bela e a fera.

Estou terminando de ler esta seleção espetacular de contos de Clarice e gostaria de repartir com vocês um dos contos do livro. Espero que gostem:
                                                   








É para lá que eu vou

Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto - é para lá que eu vou.
À ponta do lápis o traço.
Onde expira um pensamento está uma idéia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia - é para lá que eu vou.
Na ponta dos pés o salto.
Parece a história de alguém que foi e não voltou - é para lá que eu vou.
Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? eu vos espero. E para lá que eu vou.
Na ponta da palavra está a palavra. Quero usar a palavra "tertúlia" e não sei aonde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? ver o que existe. Depois de morta é para a realidade que vou. Por enquanto é sonho. Sonho fatídico. Mas depois - depois tudo é real. E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio.
Não sei sobre o que estou falando. Estou falando de nada. Eu sou nada. Depois de morta engrandecerei e me espalharei, e alguém dirá com amor meu nome.
É para o meu pobre nome que vou.
E de lá volto para chamar o nome do ser amado e dos filhos. Eles me responderão. Enfim terei uma resposta. Que resposta? a do amor. Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor. O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.
À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.
Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.
Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. E feneço lentamente.
Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós. (Do livro Onde estivestes de noite).


Beijos e até a próxima,


18 comentários:

Luciano A.Santos on 1 de outubro de 2010 às 09:00:00 BRT disse...

O governo do estado de São Paulo tem um projeto interessante de estímulo à leitura, doando livros aos alunos do ensino médio. Ano passado, dentre outros, meu irmão recebeu o Laços de Família, e, neste ano, A Hora da Estrela. É uma prática louvável, pois aproxima os alunos de escritores nacionais que, mesmo sendo mestres como Clarice, perderam espaço nas prateleiras para literatura estrangeira, e não são fáceis, ao menos aqui no interior, de se encontrar.

Ainda não li Laços de Família, mas A Hora da Estrela permanece como um de meus livros favoritos.

Grande abraço.

Regina on 1 de outubro de 2010 às 09:00:00 BRT disse...

Passando pra deixar um oi e um ótimo final de semana!
beijos
http://psicologaregina.blogspot.com

Misturação - Ana Karla on 1 de outubro de 2010 às 10:23:00 BRT disse...

Ah, Clarice, sempre!

Diria que é impossível não gostar dela, né Cê?

Adorei o post para a sexta.

Bom final de semana.

Xeros

Manuela Freitas on 1 de outubro de 2010 às 10:27:00 BRT disse...

Olá querida Cê,
Clarice é incontronável, o que eu desejo e muito é que esse livro apareça cá nos escaparates, que eu vou logo comprá-lo! Literatura brasileira não aparece muito por cá, o mais bombástico é Paulo Coelho, que não é de forma alguma o que eu gosto de ler!
Beijinhos,
Manú

Isadora on 1 de outubro de 2010 às 11:11:00 BRT disse...

Oi Cê tenho um carinho todo especial a todos os escritos de Clarice. Para mim é uma das que consegue desvendar os mistérios da alma com grande sensibilidade e verdade.
Um beijo

Flavinha on 1 de outubro de 2010 às 11:31:00 BRT disse...

Realmente muito bom (lindo e profundo) este texto que dividiu conosco, principalmente a parte do que tem à extremidade de mim...

Valeu pela dica do livro!

Em breve Clarice estará na minha sessão "Andei lendo...", pois acabei de ler "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres". Muito bom!

Beijinhos

♕Miss Cíntia Arruda Leite ღ on 1 de outubro de 2010 às 13:51:00 BRT disse...

Clarice faz bem à qualquer hora ou momento, que viva em nós! beijos e bom fim de semana!

Anne on 1 de outubro de 2010 às 14:49:00 BRT disse...

Clarice Divina Lispector! Minha preferida, sempre! Nossa, leio Clarice o tmepo inteiro, rsrs
Flor, vc está certíssima, eu sou a moça do moço acidentado da UTI, que agora não está mais na UTI, graças a Deus!
rsrs
Beijos flor!

Pelos caminhos da vida. on 1 de outubro de 2010 às 14:54:00 BRT disse...

Clarice e vc como companhia é tudo de bom.

beijooo.

Viviane Moraes on 1 de outubro de 2010 às 14:55:00 BRT disse...

Gosto não, eu amo Clarice Lispector mas nunca tinha achado um dos seus livros para ler, até agora.. Vou procurar o mais rápido possível..

Gostei daqui Cê, vou seguir..hehehehe

Bjs, fica com Deus *--*

Unknown on 1 de outubro de 2010 às 15:37:00 BRT disse...

Olá Cê,

Que lindo conto da Clarice... Amei!

Tenha um lindo fim de semana, beijos!

Unknown on 1 de outubro de 2010 às 15:37:00 BRT disse...

Olá Cê,

Que lindo conto da Clarice... Amei!

Tenha um lindo fim de semana, beijos!

Macá on 1 de outubro de 2010 às 16:16:00 BRT disse...


Sexta-feira com Clarice? Tudo de bom heim?
"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada."
Ela era (não.... é) ótima.
bjs

Élys on 1 de outubro de 2010 às 17:05:00 BRT disse...

O textos de Clarice Lispector, são de um sabor delicioso e o seu entusiasmo cativante recomendando os seus livros, faz com que todos os queiram conhecer.
Beijos,
Élys

Fernanda Reali on 1 de outubro de 2010 às 19:47:00 BRT disse...

Acho sempre triste, tanto clarice como Cecília Meirele e Caio Fernando Abreu. Melancólicos e meio amargos, mas leio e releio...

beijooo

Beatriz on 1 de outubro de 2010 às 20:49:00 BRT disse...

Oi Cê,
Ótima dica! Ainda não li este e vou procurar.
Obrigaduuuuuuuuu!!!
Beijinhos,
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com

diariodumapsi on 1 de outubro de 2010 às 21:32:00 BRT disse...

Fantástico esse post!
Amo Clarice Lispector, ela lê alma como ninguém!
Muito boa a sua dica!
Bom final de semana minha querida.
gd beijo

Beth/Lilás on 3 de outubro de 2010 às 23:53:00 BRT disse...

Clarice é uma queridona, principalmente das mulheres.
bjs

 

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